
Sinais atuais da Ressurreição
No dia 29 de abril, ainda em Tempo Pascal, aconteceu via Zoom, mais uma reflexão, promovida pelo SDEC, orientada por D. Manuel Pelino, Bispo emérito de Santarém, sob o tema: SINAIS ATUAIS DA RESSURREIÇÃO
Iniciou-se com a recitação de um Hino Pascal e pela proclamação do Evangelho segundo S. João.
Nasceu o Sol da Páscoa gloriosa,
Ressoa pelo céu um canto novo,
Exulta de alegria a terra inteira.
Dos abismos da morte e da tristeza
Sobe o Senhor Jesus à sua glória,
Libertando os antigos Patriarcas.
Sem saber que o sepulcro está vazio,
A guarda, vigilante, testemunha
O poder do Senhor ressuscitado.
Rei imortal, contigo glorifica
Neste dia de glória os que em teu nome
Renasceram das águas do Batismo.
E desça sobre a Igreja e sobre o mundo,
Como penhor de paz e de esperança,
A luz da tua Páscoa esplendorosa.
Cantemos a Deus Pai e a seu Filho,
Louvemos o Espírito de amor,
Agora e pelos séculos sem fim.
Do Evangelho segundo S. João (Jo 20,19-23)
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-se no meio deles e disse-lhes: “A paz esteja convosco” Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: “A Paz esteja convosco. Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós”. Dito isto soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo, àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
Em seguida, D. Manuel fez uma breve reflexão que se sintetiza da seguinte forma:
A Ressurreição, a Ascensão e o Pentecostes são mistérios da vida de Jesus que formam uma unidade com profundas implicações na vida dos cristãos que os meditam e interiorizam. No final da profissão de fé (CREDO), proclamamos: “professo um só batismo para a remissão dos pecados. E espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há-de vir” (Credo de Niceia). Ou, no Credo dos apóstolos: “Creio no Espírito Santo… na ressurreição da carne; na vida eterna. Ámen”. É o final do Credo e a sua conclusão. Sem esta conclusão, a fé e a vida seriam um engano e o caminho cristão não teria sentido. Ou seja, o final do Credo é também o alicerce da vida cristã. Por vezes os crentes, incorretamente, relacionam estes mistérios só com a pessoa de Jesus ou com os primeiros tempos da Igreja. Ou, então, julgam a ressurreição como uma realidade que apenas tem aplicação e interesse para a altura da morte, após a vida terrena. Quando chegar essa altura, então sim, pensamos e esperamos que “a vida não acabe apenas se transforme”. Muitos fiéis pensam assim, como se a fé na Ressurreição se resumisse à convicção de que, quando morremos, vamos para o céu.
Na verdade, é difícil acreditar na Ressurreição. Por isso, é importante fundamentar as razões da nossa fé na Ressurreição, pois é a fonte fundamental que alimenta a nossa esperança, a nossa alegria e o nosso entusiasmo por viver e testemunhar o Evangelho.
A Ressurreição de Jesus e a nossa, são para viver hoje. É agora, no presente, que somos chamados a ressuscitar com Cristo. De facto, todos os anos, ao celebrarmos a Páscoa, somos preparados e conduzidos para renovar a vida nova do Batismo, para fortalecer a união e a configuração com Cristo Ressuscitado. A Páscoa é renascimento, é transformação, já a partir da vida presente. Atingirá a plenitude na vida eterna, mas começa agora. Por isso, ao longo do Tempo Pascal, a liturgia da Igreja, recorda os quarenta dias (número simbólico) em que Jesus, após a ressurreição, se encontrou com os apóstolos (aparições do Ressuscitado) e lhes deu sinais sólidos (“provas”) de que estava vivo. Estes encontros fortaleceram a fé na Ressurreição e converteram-nos ao Reino de Deus. De facto, como notamos pela narrativa do livro dos Atos, estavam ainda agarrados a uma perspetiva muito terrena do projeto de Jesus, julgando que Ele iria “restaurar o reino de Israel”, onde eles teriam lugares de importância. Progressivamente foram-se transformando pela conversão ao serviço, à humildade, à união fraterna e à vida comunitária. Tornaram-se verdadeiramente novas criaturas. A vinda do Espírito Santo no Pentecostes veio amadurecer e ampliar esta transformação e dar-lhes força e entusiasmo para abrir as portas e levar ao mundo a alegria da boa nova da esperança, da paz, da fraternidade universal.
Descobrimos assim as implicações da Páscoa na vida presente. Na transformação dos Apóstolos, encontramos a inspiração para o novo perfil do cristão chamado a ressuscitar com Cristo e enriquecido pelo Espírito Santo a ser fermento de vida nova, de renovação das realidades terrenas. Tornamo-nos novas criaturas para sermos elementos de uma nova humanidade que nasce da Ressurreição de Cristo.
Após esta introdução os presentes, divididos em salas zoom, refletiram sobre as seguintes questões:
1. No ambiente materialista em que vivemos, como avaliamos a preocupação pela vida eterna? Em que circunstâncias as pessoas podem ser despertas para esta dimensão?
2. Que sinais atuais da Ressurreição descobrimos na vida religiosa, pessoal, eclesial e social das pessoas?
3. Que perfil do cristão concretiza o ideal (aproximado) de nova criatura à imagem de Cristo Ressuscitado.
4. Como transmitir aos mais novos (na catequese e na família) a memória e a vivência da Páscoa?
As reflexões realçaram sobretudo o seguinte:
- Num mundo fortemente marcado pelo materialismo e as grandes ocupações do dia- a -dia, a preocupação com a vida eterna tende a ser desvalorizada ou esquecida. Contudo, em momentos de dor, perda, doença, ou confrontos com a fragilidade da existência, muitas pessoas são despertadas para a dimensão espiritual e eterna da vida.
- Existem, de facto, sinais atuais da ressurreição ao longo dos séculos e, particularmente, no pós o Vaticano II, onde se realça a grande preocupação pela Humanidade: acolhimento, paciência, proximidade, tolerância, construção da paz e da justiça.
- Os sinais da Ressurreição estão presentes sempre que o amor vence o ódio, o perdão substitui o rancor e a esperança se ergue no meio do desespero.
- Na dimensão pessoal, cada pessoa que renasce após uma crise, que se reconcilia com a sua história ou que reencontra sentido na fé, é sinal da vida nova em Cristo. No plano eclesial, a vitalidade de comunidades que acolhem, celebram e testemunham a fé, mesmo com poucos meios, mostram que Cristo está vivo nelas. E no âmbito social, cada gesto de solidariedade, justiça e promoção da dignidade humana — especialmente junto dos mais pobres — é reflexo da Luz Pascal no mundo.
- A ressurreição deve ser vivida no dia-a-dia como uma experiência feliz, pois a Luz da Páscoa faz-nos homens novos, com um perfil conforme ao estilo de Jesus: desprendidos, mansos e humildes, puros de coração, misericordiosos, construtores da paz e da justiça (bem aventuranças).
- Viver na catequese, mais intensamente as Celebrações do Tempo Pascal valorizando os símbolos, os cantos pascais, a via lucis, a visita pascal e outras atividades que ajudem a compreender a Páscoa como uma experiência alegre e feliz e um caminho para a vida.
- Transmitir a Páscoa às novas gerações exige mais do que palavras, exige testemunho. As crianças e os jovens aprendem pela experiência, pelo exemplo e pela partilha. Na catequese, é importante envolver as crianças em atividades vivas e significativas e, sobretudo estabelecer ligações com a sua vida concreta. Mostrar-lhes que Jesus está vivo hoje e que a Páscoa é uma festa de vida nova.