Mensagem de D. Virgílio para a Quaresma 2024
BISPO DE COIMBRA
MENSAGEM PARA A QUARESMA DE 2024
“COM MARIA, SEGUIMOS JUNTOS, A CAMINHO DA LIBERDADE”
Irmãos e irmãs!
Nesta Quaresma, recordamos o lema do nosso ano pastoral: “Com Maria, seguimos juntos... O caminho continua”. A Virgem Maria reúne no seu coração de mãe todos os anseios e esperanças de liberdade do Povo de Israel e dispõe-se interiormente a acolher Jesus, o Homem livre, que traz a força da liberdade a todos os povos.
A Virgem Maria reúne igualmente no seu coração o desejo de liberdade do Novo Povo de Deus, abarcando os sonhos de liberdade da humanidade do nosso tempo. Ela reúne as esperanças antigas do povo a quem Deus se revela como Libertador e as esperanças da atualidade, onde abundam os sinais da escravidão pessoal, comunitária, social, religiosa, política ou de qualquer outro género.
Para o coração de Maria conflui toda a humanidade de filhos e filhas, que aguardam a sua libertação e encontram em Jesus, o fruto sagrado do seu seio, o caminho da sua vida. Ela apresenta-nos sempre Jesus como o centro da sua vida e convida-nos a fazer de Jesus o caminho da nossa vida.
No mistério da encarnação, Maria ensina-nos a sermos livres no acolhimento da vontade de Deus, manifestada pelo Espírito Santo, que a cobre com a Sua sombra; em Caná, aponta-nos o caminho da liberdade, quando nos convida à obediência de Jesus: “fazei o que Ele vos disser”; aos pés da cruz, mostra-nos como a oferta da nossa vida em favor dos irmãos é o caminho da liberdade; no Pentecostes, volta a dizer, que o nosso caminho pessoal e o caminho da Igreja livre, nasce da inspiração do Espírito Santo.
Incluímos na vivência da nossa Quaresma o desafio lançado pelo Papa Francisco na sua mensagem para toda a Igreja: “Através do deserto, Deus guia-nos para a liberdade”.
Ser livre consiste em sair de si mesmo para viver e agir com o coração centrado em Deus e centrado nos outros. Se ficamos centrados em nós, tornamo-nos individualistas e solitários; se nos focamos somente em Deus, podemos tornamo-nos espiritualistas e a viver uma religiosidade desencarnada; se nos voltamos somente para os outros, podemos tornar-nos materialistas.
A fé cristã ensina-nos a permanecer em Deus, sempre a caminho dos irmãos, a construirmos a nossa liberdade, amparando a construção da liberdade dos outros. A espiritualidade cristã leva-nos a ouvir a voz do Espírito que nos conduz a Jesus, Deus e Homem, que oferece a Sua vida em resgate de todos os que são prisioneiros do mal a fim de sermos livres com todos os que nos foram dados como irmãos.
A Quaresma é o tempo favorável que Deus nos oferece cada ano para fazermos caminho com Maria ao encontro de Jesus e dos irmãos. Sendo tempo de graça, é, também tempo de deserto, de silêncio orante, que nos faz escutar a voz de Deus e o grito dos irmãos. A Sagrada Escritura, lida, meditada e rezada, conduz-nos ao coração de Deus, que nos quer ver felizes; os “sinais dos tempos” que correm, conduzem-nos a conhecer as alegrias e dores do próximo, que o mesmo Deus ama e deseja ver livres e salvos.
O mundo em que vivemos continua a ser um grande deserto de homens e mulheres que suspiram pela liberdade dos filhos de Deus. Os sinais são evidentes e vão desde as escravaturas interiores até às atrocidades das corrupções, das guerras, das injustiças e das ausências de amor que matam o corpo e o espírito.
Não temos a ilusão de pensar que mudaremos o mundo de um momento para o outro, mas acreditamos que as sementes de transformação da sociedade nascem dentro de nós, quando nos abrimos para sair e acolher Deus e para encontrar os irmãos. Sejamos muitos ou poucos, não desistimos de manter bem vivas essas sementes de Deus e de verdadeira humanidade, que hão de florescer no meio do deserto da vida. Aquele Jesus que Maria nos trouxe e que a Igreja nos dá, ofereceu-Se a Si mesmo e inaugura o mundo novo e a humanidade nova, que amamos e não nos permite desistir.
Tudo pode começar ou ter continuidade dentro de nós, nesta Quaresma, se pedimos um coração novo e um espírito novo, na liberdade e na fidelidade de filhos de Deus e irmãos de todos os homens.
Sugiro três dimensões para este caminho quaresmal:
Procuremos um encontro com Deus, mais intenso, livre e disponível, por meio da oração, da participação na liturgia, da leitura orante da Palavra de Deus, dos momentos de piedade propostos pelas comunidades.
Procuremos o encontro com toda a humanidade pela via da solidariedade autêntica e da proximidade humana e espiritual, unindo-nos nas alegrias e dores a todos, pessoas ou povos, que sofrem qualquer forma de escravidão.
Procuremos libertar-nos de todas as formas de escravidão, que diariamente nos assaltam, para vivermos na liberdade de filhos de Deus.
Este ano o produto da nossa renúncia quaresmal divide-se em duas partes: uma para ajudar as vítimas da guerra na Faixa de Gazas; a outra para ajudar o Instituto Universitário Justiça e Paz da Diocese de Coimbra, a nossa Casa dos Jovens.
Convido os jovens a serem protagonistas de uma humanidade nova por meio da resposta a Cristo que os ama e lhes oferece os caminhos da libertação que procuram. Repito-lhes o apelo que a nossa Igreja Diocesana de Coimbra lhes faz, com muita esperança na sua capacidade de serem os primeiros na renovação da humanidade: “Jovem, levanta-te. Cristo vive”. Peço-lhes que acolham as propostas que o Serviço Diocesano da Juventude lhes dirige para esta Quaresma, pois a Jornada Mundial da Juventude continua a ser para eles um apelo de Deus.
Desejo a todos uma santa Quaresma, que seja caminho de conversão a Deus e caminho de amor aos irmãos, sempre com Maria que, como Mãe, nos leva a seguimos juntos.
Virgílio Antunes, Bispo de Coimbra